A Biblioteca Municipal de Mesão Frio recebeu ontem, 27 de novembro, o debate «Rendimento Laboral e Pobreza», uma iniciativa que trouxe a público os temas da pobreza e do trabalho na Região. A moderação da conversa esteve a cargo de Fontaínhas Fernandes, antigo Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e atual Presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior e de Elsa Justino, doutorada em Serviço Social e professora no ISCTE da Universidade de Lisboa.
A conversa contou com a participação de Cecília Loureiro, Coordenadora e Psicóloga do Radar Social de Mesão Frio, de José Carlos Mendonça, empresário hoteleiro ligado à Quinta Barqueiros D’Ouro, em Mesão Frio, e de Rui Soares, da Confraria dos Vinhos do Douro e responsável pela viticultura da Real Companhia Velha.
"Há claramente uma gastronomia que tem de ser valorizada com os produtos locais", afirmou Fontainhas Fernandes, defendendo que “a valorização dos produtos típicos da Região é fundamental para fortalecer a identidade e a economia locais.” Para o antigo reitor da UTAD, a riqueza dos produtos regionais é uma das maiores potencialidades, que necessita de maior incentivo. Reconhece, no entanto, que um dos principais desafios são as baixas remunerações em alguns setores, especialmente na Agricultura e na produção alimentar, o que dificulta a sustentabilidade dos produtores.
O presidente da Câmara Municipal não hesitou em referir o problema habitacional de Mesão Frio: “Estamos num Concelho em que o Estado não constrói uma habitação social há 30 anos. A falta de investimentos públicos na construção de habitação tem contribuído para o agravamento da situação, especialmente entre as camadas mais jovens e os mais vulneráveis.” O presidente elogiou ainda o trabalho do Radar Social, que está a realizar um diagnóstico essencial para o entendimento das necessidades da população e das fragilidades existentes.
Cecília Loureiro explorou aspetos como o envelhecimento e o isolamento como desafios sociais que exigem atenção: “A ação social do Município de Mesão Frio tem apoiado imenso as pessoas com novos projetos”, disse, sublinhando a importância dos esforços para mitigar o impacto do envelhecimento e do isolamento social, onde a Câmara Municipal tem conjugado os esforços.
A questão das acessibilidades também foi abordada, nomeadamente as dificuldades de mobilidade em certas zonas do Concelho, que limitam o acesso a serviços essenciais e ao desenvolvimento económico da Região. “A falta de infraestruturas adequadas, somada à escassez de transportes públicos, continuam a ser obstáculos, especialmente para as pessoas mais velhas e as que vivem em áreas rurais.”
Carlos Mendonça, que investiu no Douro há 13 anos com um negócio familiar de agroturismo, partilhou a sua experiência ao longo do percurso: “Tínhamos uma vida muito agitada. Arrancámos em 2018 com três casas. Fomos muito bem recebidos em Barqueiros e em Mesão Frio”, contou. Apesar da receção positiva da comunidade local, apontou algumas dificuldades, nomeadamente as condicionantes de construção e reconstrução de infraestruturas, a falta de formação profissional na área da restauração e as dificuldades no acesso a recursos essenciais.
Rui Soares trouxe à tona a dura realidade da viticultura, que é uma das principais atividades da Região. “Tudo gira em torno da vinha e do vinho. Há pobreza, porque geramos pouco valor. A uva é mal paga!”, lamentou, apontando a discrepância entre o valor do vinho e o pagamento aos viticultores. Para Rui Soares, este é um problema central que precisa ser resolvido para garantir que os produtores recebam uma compensação justa pelo seu trabalho, essencial para a economia da Região.
A ação pública e a valorização dos recursos locais, juntamente com o apoio às comunidades mais vulneráveis, parecem ser as chaves para o futuro sustentável do Douro e das suas gentes. A organização foi do Fórum Cidadania para a Erradicação da Pobreza de Vila Real, com o apoio da Rede Europeia Anti Pobreza e a colaboração do Município de Mesão Frio.